Apoio de Bolsonaro à vacina ocorreu após compra da Covaxin
Antes da assinatura do Ministério da Saúde, o presidente afirmou que não tomaria o imunizante, decretou sigilo de 100 anos no seu cartão de vacinação e sugeriu que quem recebesse a dose poderia virar jacaré
A mudança súbita do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de seus filhos em relação à vacina contra a Covid-19 ocorreu coincidentemente quando o Ministério da Saúde fechou a aquisição suspeita de 20 milhões de doses da Covaxin. Depois de enfraquecer a campanha com declarações negacionistas ao longo da pandemia, a família começou a apoiar a imunização quando a compra investigada por superfaturamento de 1.000% em cada dose foi assinada. É o que aponta a coluna do jornalista Guilherme Amado, no site Metrópoles.
Até o dia 10 de março, a principal bandeira da extrema-direita contra o vírus era o falso tratamento precoce, já recomendado pelo aplicativo TrateCov, que reunia medicamentos sem eficácia comprovada para a doença. Cinco dias antes, Francisco Maximiano, sócio da empresa Precisa – intermediária na negociação com o laboratório indiano Bharat Biotech - desembarcou no Brasil.
De acordo com a publicação, a relação da Família Bolsonaro com Maximiano é antiga e se mostrou próxima no dia 13 de outubro de 2020, quando o senador Flávio (Patriota-RJ) o levou como representante de outra empresa, a Xis Internet Fibra, para uma reunião com o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), Gustavo Montezano.
O primeiro a mudar de opinião foi justamente o filho mais velho do presidente. Flávio Bolsonaro pediu ao seu público para compartilhar uma foto do seu pai com a frase "nossa arma é a vacina" nas redes sociais. No mesmo dia, o próprio Jair defendeu a imunização no Palácio do Planalto e garantiu que não poupava esforços para adquirir doses.
Pouco depois, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) publicou a imagem do Zé Gotinha com uma seringa em formato de fuzil, em alusão à proposta de armar a população amplamente defendida na campanha do pai.
Na denúncia contra o Ministério da Saúde, que culminou na investigação da Polícia Federal contra Bolsonaro por suspeita de prevaricação, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) conta que o presidente foi alertado sobre o esquema no dia 20 de março mas não deu uma resposta concreta.
Três dias depois, o parlamentar questionou à assessoria se o presidente havia ficado chateado e foi respondido com a mensagem: "negativo, deputado. São muitas demandas". No mesmo dia, Bolsonaro fez o primeiro pronunciamento oficial em defesa da vacina.
O texto aponta também que ainda em janeiro deste ano, o próprio chefe do Executivo enviou comunicado ao primeiro-ministro indiano Narendra Modi para pressionar por mais agilidade na liberação da Covaxin. Após quatro dias, a Precisa fechou contrato com a Bharat Biotech mesmo com a vacina sem liberação da agência regulamentadora da Índia.
Ao mesmo tempo em que o processo de compra da Covaxin era tocado com emergência pelo Governo Federal, o Ministério da Saúde ignorou mais de 100 e-mails de representantes do laboratório Pfizer que tentavam negociar o envio de doses para o Brasil.