Preocupação excessiva com o corpo afeta saúde mental

Especialistas explicam as possíveis causas de transtorno, como ele se manifesta e as melhores formas de tratamento

sex, 30/09/2022 - 10:57

É normal que, em alguns momentos da vida, uma pessoa se sinta insatisfeita com algo em sua aparência. No entanto, existem pessoas que sofrem diariamente com o Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), que ocorre quando alguém se preocupa constantemente com a sua imagem e tem a tendência de enxergar defeitos em uma ou mais partes do seu corpo.

A psicóloga Caroline Cavalcante explica que esse transtorno é descrito no Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) como transtorno obsessivo compulsivo e outros. Segundo ela, pessoas que se encaixam nesse quadro apresentam comportamentos repetitivos, como verificar a aparência no espelho diversas vezes durante o dia e arrumar-se de forma excessiva.

Caroline considera importante ressaltar que a condição de preocupação excessiva não significa vaidade. Além do desgaste de energia, tempo e saúde, o Transtorno Dismórfico Corporal causa sentimentos de vergonha, medo e uma busca desenfreada para tentar corrigir e esconder o que é percebido como falha. “A pessoa também pode apresentar comorbidade com outros transtornos, como ansiedade e depressão”, complementa.

De acordo com o Manual MSD, o TDC atinge cerca de 2% a 3% da população mundial. A psicóloga aponta que um dos critérios para a identificação desse transtorno é quando ele afeta as condutas social e profissional ou outras atividades.

“Um exemplo disso pode ser evidenciado quando a pessoa que possui o TDC fica com medo e vergonha de sair de casa, com receio de ter esse defeito pontuado ou visto por outras pessoas, ou que elas vão olhar para alguma parte do seu corpo”, exemplifica Caroline.

A psicóloga também fala sobre a diversidade que há no Brasil: corpos, cabelos e cores diferentes. No entanto, de acordo com Caroline, os padrões de beleza difundidos correspondem ao padrão eurocêntrico. “Ao estar vinculado às mídias sociais, temos um determinado padrão a ser percebido, visto como belo e protagonista desse espaço, que impacta diretamente a saúde das pessoas que estão fora desse padrão idealizável”, observa.

Embora essas questões sociais e culturais envolvam homens e mulheres, Caroline afirma que o componente de gênero é potencializador dentro desse assunto, considerando que as mulheres são frequentemente avaliadas em relação à aparência. Por causa da pressão social, o gênero feminino está mais sujeito a tentar estar e/ou permanecer dentro de um padrão normativo.

A nutricionista Aline Reis explica que há uma intensa relação entre o TDC e os transtornos alimentares, especialmente a bulimia nervosa e anorexia nervosa. A associação ocorre quando uma pessoa busca alterar o peso ou a forma corporal para obter maior satisfação com o seu corpo, por meio de dietas e a eliminação de alguns grupos de alimentos essenciais para o organismo, como carboidratos e gorduras.

Aline também acredita no potencial de influência das mídias sociais no desenvolvimento desses transtornos. Ela cita, por exemplo, o contato massivo que temos com imagens de corpos, principalmente modificados por recursos e filtros das redes sociais.

“Na tentativa de se encaixar na imagem corporal desejada, o que quase sempre significa dizer ‘se encaixar em um padrão de corpo magro’, são realizadas alterações nos hábitos alimentares, o que pode funcionar como gatilho para o desenvolvimento de transtornos alimentares”, esclarece.

A nutricionista ressalta que não há uma alimentação adequada que funcione para todas as pessoas. É necessário entender a origem de constante preocupação e se pode existir algum comportamento alimentar inadequado em consequência disso. “O ideal é realizar acompanhamento com nutricionista especialista em transtornos alimentares, o qual terá melhor manuseio da relação entre imagem corporal e alimentação”, ressalta.

Caroline Cavalcante aponta que a melhor forma de tratamento consiste na psicoterapia, na tentativa de ressignificar a relação da pessoa com o seu corpo. Aline Reis afirma que, de modo geral, qualquer transtorno de imagem e alimentar irá requerer uma equipe multidisciplinar para o tratamento.

“No que concerne à nutrição, ocorre com sessões semanais ou quinzenais, por um longo período, visando estabelecer não só um consumo alimentar adequado, mas também melhorar as atitudes alimentares, crenças e cognições sobre o ato de comer, além de trabalhar de modo intenso a relação entre a comida, sentimentos, percepções e imagem corporal”, conclui.

Por Isabella Cordeiro (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel)

 

 

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